Máximas, pensamentos e reflexões
Marquês de Maricá
1- Uns homens sobem por leves como os vapores e gazes, outros como os projetis pela força do engenho e dos talentos.
2- A beneficência é sempre feliz e oportuna quando a prudência a dirige e recomenda.
3- O pródigo pode ser lastimado, mas o avarento é quase sempre aborrecido.
4- O interesse explica os fenômenos mais difíceis e complicados da vida social.
5- Os maldizentes, como os mentirosos, acabam por não merecerem crédito ainda mesmo dizendo verdades.
6- Há muitos homens que se queixam da ingratidão humana para se inculcarem benfeitores infelizes ou se dispensarem de ser benfazentes e caridosos.
7- Ninguém considera a sua ventura superior ao seu mérito, mas todos se queixam das injustiças dos homens e da fortuna.
8- Os elogios de maior crédito são os que os nossos próprios inimigos nos tributam.
9- A modéstia doura os talentos, a vaidade os deslustra.
10- Os abusos, como os dentes, nunca se arrancam sem dores.
11- Os insignificantes são como os mascarados, audazes por desconhecidos.
12- É tal a incapacidade pessoal de alguns homens, que a fortuna, empenhada em sublimá-los, não pode conseguir o seu propósito.
13- Os soberbos são ordinariamente ingratos; consideram os benefícios como tributos que se lhes devem.
14- O nosso amor-próprio é tão exagerado nas suas pretensões, que não admira se quase sempre se acha frustrado nas suas esperanças.
15- Não é menos funesto aos homens um superlativo engenho, do que às mulheres uma extraordinária beleza: a mediocridade em tudo é uma garantia e penhor de segurança e tranqüilidade.
16- A intemperança da língua não é menos funesta para os homens que a da gula.
17- Mudamos de paixões, mas não vivemos sem elas.
18- Nobre e ilustrada é a ambição que tem por objeto a sabedoria e a virtude.
19- Quando o povo não acredita na probidade, a imoralidade é geral.
20- A maledicência é uma ocupação e lenitivo para os descontentes.
21- A velhice reflexiva é um grande armazém de desenganos.
22- Sem as ilusões da nossa imaginação, o capital da felicidade humana seria muito diminuto e limitado.
23- O remorso é no moral o que a dor é no físico da nossa individualidade: advertência de desordens que se devem reparar.
24- É nas grandes assembléias deliberantes que melhor se conhece a disparidade das opiniões dos homens, e o jogo das paixões e interesses individuais.
25- Duas coisas se não perdoam entre os partidos políticos: a neutralidade e a apostasia.
26- Como o espaço compreende todos os corpos, a ambição abrange todas as paixões.
27- O homem que freqüentes vezes se inculca por honrado e probo, dá justos motivos de suspeitar-se que não é tal ou tanto como se recomenda.
28- O direito mais legítimo para governar os homens é o de ser mais inteligente que os governados.
29- Os vícios nos velhos são inimigos acastelados que a morte pode somente expugnar.
30- O moço devasso pode emendar-se, o velho vicioso é incorrigível.
31- A mocidade viciosa faz provisão de achaques para a velhice.
32- Esperdiçamos o tempo, queixando-nos sempre de que a vida é breve.
33- As desgraças que vigoram os homens probos e virtuosos, enervam e desalentam os maus e viciosos.
34- Há crimes felizes que são reputados heróicos e gloriosos.
35- Um século censura o outro século, como em nossa vida uma idade condena a outra idade.
36- A vitória de uma facção política é ordinariamente o princípio da sua decadência pelos abusos que a acompanham.
37- Os tufões levantam aos ares os corpos leves e insignificantes, e prostram em terra os graves e volumosos: as revoluções políticas produzem algumas vezes os mesmos efeitos.
38- É bem singular que os moços sejam pródigos podendo esperar uma vida longa, e que os velhos sejam avarentos estando ameaçados de uma morte próxima ou iminente.
39- Dói mais ao nosso amor-próprio sermos desprezados, que aborrecidos.
40- Os sábios respeitados por seus escritos são algumas vezes desprezíveis por suas ações.
41- Os velhos erram muitas vezes por demasiadamente prudentes, os moços quase sempre por temerários.
42- Os homens mais respeitados não são sempre os mais respeitáveis.
43- Os homens de extraordinários talentos são ordinariamente os de menor juízo.
44- Nas revoluções políticas os povos ordinariamente mudam de senhores sem mudarem de condição.
45- A fortuna cega faz também cegos e surdos aos seus validos.
46- O homem que cala e ouve não dissipa o que sabe, e aprende o que ignora.
47- O fraco ofendido desabafa maldizendo.
48- Os velhos ruminam o pretérito, os moços antecipam e devoram o futuro.
49- Há empregos em que é mais fácil ser homem de bem, que parecê-lo ou fazê-lo crer.
50- Os crimes fecundam as revoluções, e lhes dão posteridade.
51- Há homens que parecem grandes no horizonte da vida privada, e pequenos no meridiano da vida pública.
52- Na fermentação dos povos, como na dos líquidos, as escumas e impurezas sobrenadam e ficam de cima, por mais ou menos tempo, até que descem ou se evaporam.
53- A opinião que domina é sempre intolerante, ainda quando se recomenda por muito liberal.
54- É muito rico aquele homem que possui um grande capital de desenganos e verdades.
55- Os grandes, os ricos e os sábios sorriem-se: os pequenos, os pobres e os néscios dão gargalhadas.
56- Os fracos arengam, quando os fortes obram e dominam.
57- A reforma das Constituições agrada a muitos, a própria desagrada a todos.
58- A morte que desordena muitas coisas, coordena muitas outras.
59- É muito difícil, e em certas circunstâncias quase impossível, sustentar na vida pública o crédito e conceito que merecemos na vida privada.
60- Os mais arrojados em falar são ordinariamente os menos profundos em saber.
61- O Pai de família é sensível em muitas pessoas: sofre e goza simultaneamente em muitas existências e individualidades.
62- Os que mais blasonam de honra e probidade, são como os poltrões que se inculcam de valentes.
63- Os homens não sabem avaliar-se exatamente: cada um é melhor ou pior do que os outros o consideram.
64- O silêncio é o melhor salvo conduto da mais crassa ignorância como da sabedoria mais profunda.
65- A Filosofia, quando não extingue, dilui o patriotismo.
66- A virtude resistindo se reforça.
67- O luxo, como o fogo, devora tudo e perece de faminto.
68- As nossas necessidades nos unem, mas as nossas opiniões nos separam.
69- O interesse bem entendido é raro, o mal entendido vulgaríssimo.
70- Os benefícios mal empregados se convertem em malefícios.
71- Há muitas ocasiões na vida em que invejamos a irracionalidade dos outros animais.
72- No trato da vida humana é mais importante a parcimônia nas palavras que no dinheiro.
73- Os bens que a virtude não dá ou não preserva são de pouca duração.
74- Desprezos há, e de pessoas tais, que honram muito os desprezados.
75- O órgão de que mais abusamos na mocidade é ordinariamente a sede dos nossos males na velhice.
76- A virtude é comunicável, mas o vício contagioso.
77- O mundo é um mago que nos traz encantados: o desencanto nos fizera talvez menos felizes ou mais desgraçados.
78- Não podemos fitar os olhos no sol, nem o pensamento em Deus, sem que fiquem deslumbrados.
79- Para bem falar, não é o saber que falta a muitas pessoas, mas a proterva e a filáucia da ignorância.
80- Devemos tratar os homens com a mesma cautela, resguardo e desconfiança, de que usamos em colher as rosas.
81- A nossa vida é quase toda um sonho, e sonhamos acordados mais vezes do que dormindo.
82- É mais útil algumas vezes a extirpação de um erro, que a descoberta de muitas verdades.
83- Dão-se os conselhos com melhor vontade do que geralmente se aceitam.
84- Ter privança com os que governam é contrair responsabilidade no mal que fazem, sem partilhar o louvor do bem que operam.
85- É necessário subir muito alto para bem descortinar as ilusões e angústias da ambição, poder e soberania.
86- A lisonja é o mel que adoça todos os incômodos, azedumes e importunidades dos empregos eminentes.
87- Muito lucram as nações em que os homens se esqueçam de que são mortais, e que a vida é breve.
88- Os anarquistas são como os jogadores infelizes ou inábeis, que, baralhando muito as cartas, ou mudando de baralhos, esperam melhorar de fortuna e condição.
89- Confiar desconfiando é uma regra muito salutar da prudência humana.
90- O homem mais sábio é necessariamente o mais religioso.
91- A ambição sujeita os homens a maior servilismo do que a fome e a pobreza.
92- Não haveria História mais insípida e insignificante que a dos homens, se todos tivessem juízo.
93- Quem não pode ou não sabe acumular, nunca chega a ser sábio nem rico.
94- O estudo confere ciência, mas a meditação, originalidade.
95- Os tiranos são criaturas dos mesmos povos, quando estes os merecem.
96- Há pessoas que não podem elevar-se a lugares eminentes sem entontecer ou desatinar.
97- A moderação em muitos homens é o reconhecimento da própria fraqueza ou mediocridade.
98- Há muitos homens que para escaparem de si mesmos, importunam os outros com visitas.
99- As revoluções políticas são ordinariamente como os terremotos, destroem mas não edificam.
100- A civilização moderna é devida mais à derrubada de erros antigos acumulados, que à descoberta de verdades novas.
101- Os arrufos entre amantes podem ser renovações de amor, mas entre os amigos são deteriorações da amizade.
102- Não prezaríamos tanto o crédito moral, se não soubéssemos que facilita muito a aquisição dos bens materiais.
103- Os governos fracos fazem fortes os ambiciosos e insurgentes.
104- Ninguém é mais adulado que os tiranos: o medo faz mais lisonjeiros que o amor.
105- Amamo-nos sempre em tudo o que mais amamos fora de nós.
106- A inveja defende e promove a doutrina dos niveladores.
107- Fingimo-nos esquecidos quando nos não convém parecer lembrados.
108- As idéias novas são para muita gente como as frutas verdes que travam na boca.
109- Há opiniões perseguidas que se podem comparar com as árvores decotadas que vegetam depois com mais vigor e profusão.
110- A atividade sem juízo é mais ruinosa que a preguiça.
111- A vaidade de muita ciência é prova de pouco saber.
112- A Religião supre o juízo e a razão que falta em muita gente.
113- Os espíritos metódicos são ordinariamente os menos sublimes e transcendentes.
114- A aura popular é como a fumaça, que desaparece em poucos instantes.
115- O maior benefício ocasiona de ordinário a maior ingratidão.
116- Os bons folgam quando os maus pelejam.
117- O interesse forma as amizades, o interesse as dissolve.
118- A ambição é um enredo que nos enreda por toda a vida.
119- Ninguém duvida tanto como aquele que mais sabe.
120- O desejo da glória literária é de todas as ambições a mais inocente, sem ser todavia a menos laboriosa.
121- Os eventos extraordinários não deixam de ser naturais, assim como um feto monstruoso não deixa de ser produto da natureza.
122- A bravura é taciturna, mas a covardia garrulenta.
123- Quando os moços se consideram com mais juízo e de melhor conselho que os velhos, tudo vai perdido, os males não têm remédio.
124- A companhia dos livros dispensa com grande vantagem a dos homens.
125- Renhimos quase sempre porque não definimos.
126- São infinitos os erros que têm resultado aos homens de haverem personalizado as suas próprias abstrações.
127- O que mais sabe, menos sofre: a Sabedoria Infinita é impassível.
128- A falsa ciência não aumenta o nosso saber, agrava a nossa ignorância.
129- Há tolos velhacos assim como há doidos sagazes.
130- O erro máximo dos filósofos foi pretender sempre que os povos filosofassem.
131- A fraqueza é menos indulgente que a força: as mulheres são mais vingativas que os homens.
132- Os tolos passam muitas vezes por acesso a velhacos, e procuram neste predicamento indenizar-se com usura das perdas que sofreram no primeiro estado.
133- O homem que despreza a opinião pública é muito tolo ou muito sábio.
134- Os erros circulam entre os homens como as moedas de cobre, as verdades como os dobrões de ouro.
135- É bem singular o império que têm os velhacos sobre os tolos; o seu ascendente irresistível é comparável à fascinação das serpentes para com os animais que lhes servem de alimento.
136- Prezamos e avaliamos a vida muito mais no seu extremo que no seu começo.
137- Ninguém mente tanto nem mais do que a História.
138- O velho calcula muito, executa pouco: a mocidade é mais executiva que deliberativa.
139- A liberdade que nunca é suficiente para os maus é sempre sobeja para os bons.
140- A liberdade embriaga como o vinho, e nos impele a iguais desatinos.
141- Os grandes homens em certas relações são pequenos homens em outras.
142- Os pequenos inimigos, ainda que menos danosos, são sempre mais incômodos que os grandes.
143- Ninguém é grande homem em tudo e em todo o tempo.
144- Há muitos homens que se aborrecem, porque se não conhecem imediatamente.
145- A prudência é uma arma defensiva que supre ou desarma todas as outras.
146- As revoluções no físico, moral e político não são mais que tendências, movimentos ou esforços naturais, para o estabelecimento de um certo equilíbrio indispensável.
147- Há muita gente que, assim como o eco, repete as palavras sem lhes compreender o sentido.
148- Dos especuladores em revoluções muitos se perdem e poucos prosperam por algum tempo.
149- É uma grande verdade de difícil compreensão, que as discórdias parciais constituem a ordem e harmonia geral no Mundo Físico e Moral.
150- Não desespereis na desgraça, ela é freqüentes vezes uma transição necessária para a boa fortuna.
151- Ignorância e pobreza vêm de graça, não custam trabalho nem despesa.
152- Todos reclamam reformas, mas ninguém se quer reformar.
153- A impunidade é segura, quando a cumplicidade é geral.
154- A novidade incomoda os velhos, a uniformidade os moços.
155- Os homens em sociedade são como as pedras em uma abóbada, resistem e se ajudam simultaneamente.
156- Ignorância e preguiça a ninguém enriquecem.
157- A pobreza e a preguiça andam sempre em companhia.
158- O soberbo é um tolo: perde sempre sem ganhar, malquistando-se com todos.
159- Os vícios, como os cancros, têm a qualidade de corrosivos.
160- A liberdade de mal fazer, a ninguém se deve permitir, a de fazer bem sobeja a todos.
161- A misantropia é a sátira da espécie humana.
162- Os moços, por falta de experiência, de nada suspeitam, os velhos, por muito experimentados, de tudo desconfiam.
163- O mais poderoso corretivo da nímia liberdade é a Religião profundamente sentida e observada.
164- A opinião pública é sujeita à moda, e tem ordinariamente a mesma consistência e duração que as modas.
165- Um filósofo eminente é na ordem social o mesmo que um cometa no sistema sidéreo ou planetário, um astro excêntrico, de uma órbita incalculável, que assusta a muitos ou a todos por não ser ainda compreendido.
166- Para quem não tem juízo os maiores bens da vida se convertem em gravíssimos males.
167- A constância nas nossas opiniões seria geralmente embaraço e oposição ao progresso e melhoramento da nossa inteligência.
168- O entusiasmo é um gênero de loucura que conduz algumas vezes ao heroísmo, e muitas outras a grandes crimes e malfeitorias.
169- Os homens, por não desagradar aos maus de quem se temem, abandonam muitas vezes os bons, a quem respeitam.
170- Os governos perecem quando não sabem ou não podem desagravar-se das injúrias irrogadas.
171- É suspeito de ilegítimo o interesse quando a consciência o reprova.
172- Há muita gente que procura apadrinhar com a opinião pública as suas opiniões e disparates pessoais.
173- Nada se perde ou se inutiliza neste mundo, nem os excrementos dos animais, nem os erros e disparates dos homens.
174- A experiência tem mostrado suficientemente que os maiores censores dos empregados públicos não são os seus melhores substitutos.
175- Os povos têm, como os reis, seus parasitas e aduladores não menos abjetos, impudentes e interesseiros.
176- Unir para desunir, fazer para desfazer, edificar para demolir, viver para morrer, eis aqui a sorte e condição de natureza humana.
177- Na ordem moral está consignada aos maus a tarefa de se castigarem entre si e de vingarem os bons.
178- Na subversão dos tronos não sofrem menos as cabanas que os palácios.
179- A ignorância que devera ser acanhada, conhecendo-se, é audaz e temerária por que se não conhece.
180- Os maus não nos levam em conta a nossa bondade e indulgência, reputam-na fraqueza, e tiram o argumento para multiplicar as suas malfeitorias.
181- A Religião é necessária ao homem feliz para não abusar, ao infeliz para não desesperar.
182- O amor-próprio do tolo, quando se exalta, é sempre o mais escandaloso.
183- A exageração é uma mentira de que não escapam ainda as pessoas mais verídicas e honradas.
184- É fácil avaliar o juízo ou a capacidade de qualquer homem, quando se sabe o que ele mais ambiciona.
185- A preguiça dificulta, a atividade tudo facilita.
186- O orgulho é próprio dos homens, a vaidade das mulheres.
187- Não se pode formar bom conceito de quem não tem boa opinião de pessoa alguma.
188- O orgulho pode parecer algumas vezes nobre e respeitável, a vaidade é sempre vulgar e desprezível.
189- No orçamento do juízo humano acha-se sempre um déficit extraordinário e insanável.
190- A imaginação é o paraíso dos afortunados, e o inferno dos desgraçados.
191- A modéstia é a moldura do merecimento que o guarnece e realça.
192- Ninguém se agasta tanto do desprezo como aqueles que mais o merecem.
193- Não é dado ao saber humano conhecer toda a extensão da sua ignorância.
194- O que se qualifica em alguns homens como firmeza de caráter não é ordinariamente senão emperramento de opinião, incapacidade de progresso, ou imutabilidade da ignorância.
195- O espírito de intriga inculca demérito nos intrigantes.
196- Em certas circunstâncias o silêncio de poucos é culpa ou delito de muitos.
197- A vingança do sábio desatendido ou maltratado é o silêncio.
198- A crença nos médicos, que falta aos sãos, sobeja sempre nos doentes.
199- Os médicos acusam a natureza, os enfermos aos médicos.
200- É necessário que nos habilitemos, para ser felizes: a felicidade sensual exige poucas habilitações; mas a moral, intelectual e religiosa, reclama um prolongado tirocínio de saber, experiência e virtudes.
201- Podemos reunir todas as virtudes, mas não acumular todos os vícios.
202- É grande escândalo da natureza um velho namorado e libertino.
203- Em vão procuramos a verdadeira felicidade fora de nós, se não possuímos a sua fonte dentro de nós mesmos.
204- Queremos tudo, porque nos cremos dignos e capazes de tudo. Tal é a filáucia do nosso amor-próprio!
205- Muita ciência ocasiona muita incerteza.
206- A virtude é uma guerra perene conosco por amor de nós.
207- Falsas doutrinas e maus exemplos depravam os homens e as nações.
208- A riqueza dos tolos é o patrimônio dos velhacos.
209- A maior vantagem da riqueza é fornecer materiais para a beneficência.
210- Quando a cólera ou o amor nos visita a razão se despede.
211- O louvor agrada por que distingue.
212- Os pobres se divertem com pouco dinheiro, os ricos se enojam com muita despesa.
213- É tão fácil enganar, quanto é difícil desenganar os homens.
214- O nascimento desiguala, mas a morte iguala a todos.
215- Nunca os louvores que damos são gratuitos; sempre temos em vista alguma retribuição por este sacrifício do nosso amor-próprio.
216- A avareza ajunta quando a prodigalidade espalha.
217- São sempre suspeitos os louvores dados à pobreza pelos ricos, ou pelos pobres.
218- Ninguém nos aconselha tão mal como a nosso amor-próprio, nem tão bem como à nossa consciência.
219- Raras vezes nos enganamos quando referimos as palavras e ações dos homens aos seus interesses individuais.
220- A pobreza não tem bagagem, por isso marcha livre e escoteira na viagem da vida humana.
221- A credulidade e confiança de muitos tolos faz o triunfo de poucos velhacos.
222- Somos muitos francos em confessar e condenar os nossos pequenos defeitos, contanto que possamos salvar e deixar passar sem reparo os mais graves e menos defensáveis.
223- Há enganos que nos deleitam, como desenganos que nos afligem.
224- É mais fácil maldizer dos homens do que instruí-los e melhorá-los.
225- A civilidade é uma convenção tácita entre os homens de se enganarem reciprocamente com afetada gentileza e benevolência.
226- O invejoso é tirano e verdugo de si próprio: ele sofre porque os outros gozam.
227- A Religião é tão boa companheira na adversidade como excelente conselheira na ventura.
228- Os ingratos pensam minorar ou justificar a sua ingratidão, memorando com freqüência os vícios e defeitos dos seus benfeitores.
229- Somos muito generosos em oferecer por civilidade o que bem sabemos que por civilidade se não há de aceitar.
230- Ninguém despreza tanto os homens e os povos como aqueles que mais os lisonjeiam.
231- Muitas pessoas se prezam de firmes e constantes que não são mais que teimosas e impertinentes.
232- O poder repartido por muitos não é eficaz em nenhum.
233- As nações têm ordinariamente os governos e governantes que merecem.
234- A nossa consciência desmente muitas vezes os louvores que nos dão.
235- Nenhum governo é bom para os homens maus.
236- Há ignorantes com muito juízo, e doutores sem muito nem pouco.
237- Os achaques da velhice denunciam ordinariamente os vícios da mocidade.
238- Sabei escusar o supérfluo, e não vos faltará o necessário.
239- Sofrei privações na mocidade, e sereis regalados na velhice.
240- Os moços se comprazem no prospecto do futuro, os velhos no retrospecto do passado.
241- É problemático se os homens falam mais vezes para se enganarem ou para se entenderem.
242- Os velhos tornam-se nulos e inúteis à força de prudência e circunspecção.
243- O avarento é o mais leal e fiel depositário dos bens dos seus herdeiros.
244- A única vantagem da ignorância é não custar despesa nem trabalho.
245- Há benefícios conferidos com tal rudeza e grosseria que de algum modo justificam os beneficiados da sua ingratidão.
246- Os homens geralmente preferem ser enganados com prazer a ser desenganados com dor e desgosto.
247- As virtudes se harmonizam, os vícios discordam sempre entre si.
248- A morte anula sempre mais planos e projetos do que a vida executa.
249- Em matérias e opiniões políticas os crimes de um tempo são algumas vezes virtudes em outro.
250- O saber é riqueza, mas de qualidade tal que a podemos dissipar e desbaratar sem nunca empobrecermos.
251- Os homens em geral ganham muito em não serem perfeitamente conhecidos.
252- O trabalho involuntário ou forçado é quase sempre mal concebido e pior executado.
253- Na nossa conta corrente com a natureza raras vezes lhe creditamos os muitos bens de que gozamos, mas nunca nos esquecemos de debitar-lhe os poucos males que sofremos.
254- A sinceridade é muitas vezes louvada, mas nunca invejada.
255- Os que reclamam para si maior liberdade são os que ordinariamente menos a toleram e permitem nos outros.
256- Um homem pode saber mais do que muitos, porém nunca tanto como todos.
257- Os maiores velhacos são os que geralmente se inculcam por melhores patriotas.
258- Sucede freqüentes vezes admirarmos de longe o que de perto desprezamos.
259- Com pouco nos divertimos, com muito menos nos afligimos.
260- Aquele que se envergonha ainda não é incorrigível.
261- A mudança rápida da temperatura do ar não é mais funesta à saúde individual do que a das opiniões políticas à tranqüilidade das nações.
262- É muito provável que a posteridade, para quem tantos apelam, tenha tão pouco juízo como nós e os nossos antepassados.
263- O amor nos velhos é como o fogo no borralho que em cinzas se entretêm.
264- Todos querem liberdade, muitos a possuem, poucos a merecem.
265- Há muitas ocasiões em que a mesma prudência recomenda o aventurar-nos.
266- Uma grande qualidade ou talento desculpa muitos pequenos defeitos.
267- Ordem social é limitação de liberdade; desordem, liberdade ilimitada.
268- A alegria e tristeza são mais intensas e expansivas no homem que em algum outro animal: o seu pranto e riso o manifestam.
269- Quem muito nos festeja, alguma coisa de nós deseja.
270- Um desengano oportuno corresponde a um benefício importante.
271- Dói tanto a injúria publicada como a ferida exposta ao ar.
272- O homem de juízo aproveita, o tolo desaproveita a experiência própria.
273- Um grande mérito força o respeito, e afugenta a adulação.
274- Os velhacos têm de ordinário mais talentos, porém menos juízo do que os homens probos.
275- É triste a condição de um velho que só se faz recomendável pela sua longevidade.
276- A esperança descobre recursos, a desesperação os renuncia.
277- Com trabalho, inteligência e economia só é pobre quem não quer ser rico.
278- As caveiras dos mortos desencantam as cabeças dos vivos.
279- A vaidade é talvez um grande condimento da felicidade humana.
280- Queixamo-nos da fortuna para desculpar a nossa preguiça.
281- Os templos provam mais a racionalidade dos homens do que os teatros e palácios.
282- O ignorante se espanta do mesmo que o sábio mais admira.
283- Os erros de uns são lições para outros, estes acertam porque aqueles erraram.
284- Em geral o temor ou medo, e não a virtude, mantêm a ordem entre os homens.
285- Há um mundo intelectual que não ocupa lugar no espaço e compreende o infinito.
286- Se o homem não fosse passível, seria necessariamente imóvel e inativo.
287- A democracia é como a tesoura do jardineiro, que decota para igualar; a mediocridade é o seu elemento.
288- Achar em tudo desordem é prova de supina ignorância; descobrir ordem e sistema em tudo é demonstração de profundo saber.
289- A paciência em muitos casos não é mais senão medo, preguiça ou impotência.
290- A preguiça enfada e quebranta mais que o trabalho regular.
291- Os que governam preferem o engano que os deleita à verdade que os incomoda.
292- O medo é a arma dos fracos, como a bravura a dos fortes.
293- A ignorância, exagerando a nossa pouca ciência, promove a nossa grande vaidade.
294- Bem curta seria a felicidade dos homens se fosse limitada aos prazeres da razão; os da imaginação ocupam os maiores espaços da vida humana.
295- A ignorância vencível no homem é limitada, a invencível infinita.
296- Um ente passível não pode ser independente.
297- As mulheres são mais indulgentes com os defeitos dos homens que com os das pessoas do seu sexo: a rivalidade é quase sempre parcial nos seus juízos.
298- Os benefícios conferidos levam sempre o ônus da gratidão e reconhecimento.
299- A covardia, aviltando, preserva freqüentes vezes a vida.
300- Inveja-se a riqueza, mas não o trabalho com que ela se granjeia.
301- Há muita gente que tem por oficio arriscar a sua vida para a manter e conservar.
302- A ignorância, lidando muito, aproveita pouco: a inteligência, diminuindo o trabalho, aumenta o produto e o proveito.
303- As virtudes são econômicas, mas os vícios dispendiosos.
304- A diferença nos sexos produz a sua união.
305- O jogo, assim como o fogo, consome em poucas horas o trabalho de muitos anos.
306- Deixamos de subir alto quando queremos subir de um salto.
307- O sábio entra em fila na procissão dos loucos e néscios, com receio de ser multado por ter juízo.
308- O ódio e a guerra que declaramos aos outros nos gasta e consome a nós mesmos.
309- A variedade é o distintivo da sabedoria, como a uniformidade e monotonia o da ignorância. A infinita sabedoria de Deus se revela pela infinita variedade das suas obras e maravilhas.
310- Na mocidade buscamos as companhias, na velhice as evitamos: nesta idade conhecemos melhor os homens e as coisas.
311- Os homens são geralmente tão avaros do seu dinheiro, como pródigos dos seus conselhos.
312- Quem cultiva a sua razão aumenta os seus bens, e diminui os seus males.
313- O juízo que falta a muitos, a ninguém sobeja.
314- É no mundo intelectual que se admiram e apreciam as maravilhas inumeráveis do mundo sensível e material.
315- A maior prova da insignificância ou santidade de um sujeito é não ter um só inimigo ou invejoso.
316- Os maus não podem viver em solidão: têm medo e horror de si próprios.
317- A vingança comprimida aumenta em violência e intensidade.
318- Quando os homens que governam não sabem nem podem fazer-se estimar, recorrem à tirania para se fazer temidos.
319- O medo e o entusiasmo são contagiosos.
320- Ninguém nos lisonjeia tanto como o nosso amor-próprio, nem nos argúe com mais perseverança do que a própria consciência.
321- Quando se considera a pugnacidade com que os homens se deixam desenganar, ocorre a suspeita de que se comprazem em ser enganados.
322- O homem é feito para dominar, e quando não pode exercer a sua soberania sobre os seus semelhantes, tiraniza os animais para ostentar a sua superioridade.
323- De nada vale a celebridade, quando os grandes crimes também a conseguem.
324- Descontentes de tudo, só nos contentamos com o nosso próprio juízo, por mais limitado que seja.
325- Se a ventura embota o fio aos prazeres, a desgraça não faz outro tanto às dores e aflições.
326- O homem mais sensual é necessariamente o menos livre e independente.
327- A ingratidão dos povos é mais escandalosa que a das pessoas.
328- A tirania é o talento dos homens ordinários e ignorantes, quando governam.
329- A desgraça, que humilha a uns, exalta o orgulho de outros.
330- Para bem julgar não basta sempre ver, é necessário olhar; nem basta ouvir, é conveniente escutar.
331- Ninguém se queixa tanto dos males da vida humana como aqueles que têm menos motivos de queixar-se: a felicidade os tornou tão suscetíveis e melindrosos, que o menor incômodo, dor ou contradição, os impele a queixumes intermináveis.
332- Pouco saber exalta o nosso amor-próprio, muito saber o humilha.
333- A ignorância, qual outro Faetonte, ousa muito e se precipita como ele.
334- O medo faz mais tiranos que a ambição.
335- Há muitos homens que, assim como o sol, parecem maiores no horizonte que no seu zênite ou meridiano.
336- Não há maior nem pior tirania que a dos maus hábitos inveterados.
337- A intriga que alcança os empregos não habilita para bem servi-los.
338- Quem desconfia de si próprio, menos pode confiar nos outros.
339- A razão, sem a memória, não teria materiais com que exercer a sua atividade.
340- A dialética do interesse é quase sempre mais poderosa que a da razão e consciência.
341- Os ineptos se elevam sobre os hábeis como as substâncias leves sobre as mais graves.
342- Todas as paixões derivam, e são modificações do amor de nós mesmos, paixão essencial e inseparável de nossa vida e existência, e necessária como guarda e sentinela da nossa conservação.
343- Os tolos são muitas vezes promovidos a grandes empregos em utilidade e proveito dos velhacos, que melhor os sabem desfrutar.
344- As opiniões de um século causam riso ou lástima em outros séculos.
345- Muito se perde por falta de inteligência, porém muito mais por preguiça e aversão ao trabalho.
346- Não se reconhece tanto a ignorância dos homens no que confessam ignorar, como no que blasonam de saber melhor.
347- O trabalho é amargo, mas os seus frutos são doces e aprazíveis.
348- O moço, na primavera da vida, preza sobretudo as flores; o velho, no seu outono, aprecia somente os frutos.
349- O valor mais resoluto é o que procede da desesperação.
350- Não admira que não compreendamos a Deus, quando somos incompreensíveis a nós mesmos.
351- A mulher douta ordinariamente ou é feia, ou menos casta.
352- De todas as revoluções para o homem, a morte é a maior e a derradeira.
353- O prazer que mais deleita é o que provém da satisfação de uma necessidade mais incômoda e urgente.
354- O amor é sempre mais sensual do que a amizade.
355- As pessoas mais devotas são de ordinário as menos religiosas.
356- Nunca nos esquecemos de nós, ainda quando parecemos que mais nos ocupamos dos outros.
357- O tempo pretérito se torna presente pela memória, e o futuro pela nossa imaginação.
358- A maior parte dos males e misérias dos homens provêm, não da falta de liberdade, mas do seu abuso e demasia.
359- Mudai um homem de classe, condição e circunstâncias, vós o vereis mudar imediatamente do opiniões e de costumes.
360- Em pontos de civilidade, o soberbo não paga o que deve, e exige sempre mais do que lhe é devido.
361- Os abusos e prejuízos nos povos são como as verrugas e lobinhos no corpo humano, ainda que feios, conservam-se por ser a sua extração dolorosa e muitas vezes arriscada.
362- Dizer-se de um homem que tem juízo é o maior elogio que se lhe pode fazer.
363- Em um povo ignorante a opinião publica representa a sua própria ignorância.
364- Em matéria de ciência, quanto mais adquirimos tanto melhor descortinamos a imensidade do que nos falta.
365- Há sempre entre os homens uma sabedoria da moda, como um penteado, um calçado ou um vestuário.
366- A ignorância dócil é desculpável, a presumida e refratária é desprezível e intolerável.
367- A impaciência, quando não remedeia os nossos males, os agrava.
368- O arrependimento é ineficaz quando as reincidências são consecutivas.
369- O desembaraço tem muito próxima afinidade com a sem vergonha.
370- A filosofia desagrada, porque abstrai e espiritualiza; a poesia debita, porque materializa e figura todos os seus objetos. Quereis persuadir e dominar os homens, falai à sua imaginação, e confiai pouco na sua razão.
371- Em diversas épocas da nossa vida somos tão diversos de nós mesmos como dos outros homens.
372- O espírito vive de ficções, como o corpo se nutre de alimentos.
373- A morte dos maus é a maior garantia para os bons.
374- Um grande crime glorificado ocasiona e justifica todos os outros crimes e atentados subseqüentes.
375- Uns homens ocasionam os males e exigem que outros os remedeiem.
376- Os cortesãos são como os alcatruzes das noras: quando uns sobem, outros descem.
377- É condição dos grandes homens serem perseguidos e maltratados na vida, e depois da sua morte lastimados, glorificados e vingados.
378- Cada geração, parecendo ocupar-se exclusivamente do seu cômodo e felicidade, trabalha efetivamente para as gerações seguintes e a sua posteridade.
379- Há muitas ocasiões em que os ricos e poderosos invejam a condição dos pobres e insignificantes.
380- A pobreza sofre inumeráveis privações, mas não é sempre importunada e insidiada como a riqueza.
381- A paixão da leitura é a mais inocente, aprazível e a menos dispendiosa.
382- O castigo, sendo pouco, irrita; sendo muito, ameaça.
383- A má educação consiste especialmente nos maus exemplos.
384- Muita luz deslumbra a vista, muita ciência confunde o entendimento.
385- A ambição, para chegar ao poder, toma algumas vezes o caráter desprezível e asqueroso do cinismo.
386- A economia, quando se apura muito, transforma-se em avareza.
387- É judiciosa a economia de palavras, tempo e dinheiro.
388- Haver a maior soma de bens com o menor trabalho e dispêndio possível, eis o grande problema que cada indivíduo procura resolver em seu favor no decurso da própria vida.
389- A beneficência da vaidade é algumas vezes mais profusa que a da virtude.
390- Os moços são tão solícitos sobre o seu vestuário, quanto os velhos são negligentes: aqueles atendem mais à moda e à elegância, estes à sua comodidade.
391- O sábio que não fala nem escreve é pior que o avarento que não despende.
392- Condenamos por ignorantes as gerações pretéritas, e a mesma sentença nos espera nas gerações futuras.
393- Muitos figuram de Diógenes, para se consolarem de não poderem ser Alexandres.
394- Onde os homens se persuadem que os governos os devem fazer felizes, e não eles a si próprios, não há governo que os possa contentar nem agradar-lhes.
395- Há males na vida humana que são preservados de outros maiores, e muitas vezes ocasionam bens incalculáveis.
396- A dissimulação algumas vezes denota prudência, mas ordinariamente fraqueza.
397- Os preceptores dos Príncipes são os seus primeiros aduladores.
398- Os apologistas e defensores da igualdade são os que mais trabalham por desigualar-se.
399- Não é a fortuna, mas juízo somente, o que falta a muita gente.
400- Entes invisíveis nos observam quando nos cremos sós e sem companhia.
401- O muito juízo é um grande tirano pessoal.
402- Os sábios duvidam mais que os ignorantes; daqui provém a filáucia destes e a modéstia daqueles.
403- A vida a uns, a morte confere celebridade a outros.
404- Os homens afetam desinteresse para melhor promoverem os seus interesses.
405- Ninguém quer passar por tolo, antes prefere parecer velhaco.
406- Velhos há que bem merecem ser comparados aos vulcões extintos.
407- Trabalho honesto produz riqueza honrada.
408- A opinião da nossa importância nos é tão funesta como vantajosa e segura a desconfiança de nós mesmos.
409- Há uns pretendidos sábios modernos de singular natureza, nada afirmam, negam tudo, e se apelidam progressivos.
410- Formam-se mais tempestades em nós mesmos que no ar, na terra e nos mares.
411- Os bons exemplos dos pais são as melhores lições e a melhor herança para os filhos.
412- É tal a falibilidade dos juízos humanos, que muitas vezes os caminhos por onde esperamos chegar à felicidade nos conduzem à miséria e à desgraça.
413- Não existindo no Universo mais que inteligência e matéria, esta é destinada e constituída para significar e simbolizar a primeira.
414- A importunidade é algumas vezes mais feliz que o merecimento.
415- A razão destrói nos homens as criações da sua própria imaginação.
416- Há povos que são felizes em não ter mais que um só tirano.
417- É necessário saber muito para poder admirar muito.
418- Afetamos desprezar as injúrias que não podemos vingar.
419- A civilidade é muitas vezes a mordaça da verdade.
420- A liberdade é a que nos constitui entes morais, bons ou maus; é um grande bem para quem tem juízo; e para quem o não tem, um mal gravíssimo.
421- Os bons presumem sempre bem dos outros; os maus, pelo contrário, sempre mal; uns e outros dão o que têm.
422- A harmonia da sociedade, como da natureza, consiste e depende da variedade e antagonismo dos seus elementos e caracteres.
423- A moda determina as opiniões de muita gente.
424- Quando os rapazes se inauguram por sábios, que resta aos velhos? -calar-se e lastimá-los.
425- São os grandes loucos que perturbam as nações, e os inumeráveis tolos que favorecem e aplaudem os seus desatinos e disparates.
426- O ambicioso, para ser muito, afeta algumas vezes não valer nada.
427- O arrependimento, se não repara o feito, previne a reincidência.
428- A tirania não é menos arriscada para o opressor, do que penosa para o oprimido.
429- Aproveita muito subir aos maiores empregos do Estado, para nos desenganarmos da sua vanglória e inanidade.
430- Este mesmo mundo que nos engana, nos desengana.
431- A morte é a executora mais ativa e eficaz da doutrina dos niveladores.
432- Os bens que a ambição promete são como os do amor, melhores imaginados que conseguidos.
433- Os povos, como as abelhas, trabalham para si e para os seus zangões.
434- Os maus nas suas desgraças procuram os bons e virtuosos, como nas trovoadas se recorre às imagens dos Santos.
435- O que há de melhor nos grandes empregos é a perspectiva ou a fachada com que tanta gente se embeleza.
436- Há homens que hoje crêem pouco ou nada, porque já creram muito e demasiado.
437- Os que asseveram que os maus são ou podem ser felizes, não têm noções claras da genuína felicidade.
438- A maior parte dos erros em que laboramos neste mundo provém da falsa definição, ou das noções falazes que lemos do bem e do mal.
439- Na arquitetura intelectual, os materiais vêm de fora, mas o plano e trabalho são da razão e do espírito.
440- Se a vida é um mal, por que tememos morrer; e se um bem, porque a abreviamos com os nossos vícios?
441- Os homens especulam no tempo de agora em revoluções, como nos fundos públicos.
442- As verdades mais triviais parecem novas quando se enunciam por um modo mais elegante e desusado.
443- Os homens sem mérito algum, brochados de insígnias e de ouro, são comparáveis aos maus livros ricamente encadernados.
444- Ambos se enganam, o velho quando louva somente o passado, o moço quando só admira o presente.
445- Não há coisa mais fácil que vencer os outros homens, nem mais difícil que vencer-nos a nós mesmos.
446- Entre as paixões humanas a ambição tem tanto de nobre como a avareza de ignóbil.
447- Ciência é poder, força e riqueza; a nação mais inteligente e sábia será consequentemente a mais rica, forte e poderosa.
448- Se as viagens simplesmente instruíssem os homens, os marinheiros seriam os mais instruídos.
449- Os nossos maiores inimigos existem dentro de nós mesmos: são os nossos erros, vícios e paixões.
450- Querendo parecer originais, nos tornamos ridículos ou extravagantes.
451- Nada incomoda tanto aos homens maus como a luz, a consciência e a razão.
452- No tempo de agora ninguém quer ser governado, porque todos aspiram e se crêem hábeis para governar.
453- Fazemos ordinariamente mais festa às pessoas que tememos do que àquelas a quem amamos.
454- A filosofia promete muito e dá pouco; é magnífica nas suas promessas e mesquinha no seus donativos.
455- Há opiniões que nascem e morrem como as folhas das árvores, outras, porém, que têm a duração dos mármores e do mundo.
456- Quando o sol se aproxima ao seu nascente, escondem-se as corujas e os morcegos: os inimigos das luzes só se comprazem e são ativos nas trevas.
457- A vida humana é uma intriga perene, e os homens são recíproca e simultaneamente intrigados e intrigantes.
458- A luz do sol é gratuita, a do fogo dispendiosa.
459- A ingratidão faz pressupor vistas de interesse no benfeitor, ou indignidade no beneficiado.
460- A filosofia pode consolar-nos, mas não tem a eficácia de tornar-nos impassíveis.
461- Deus se revela em tudo e por todos. As obras de um agente são as suas revelações.
462- Que juízo não é necessário que tenhamos para conhecer toda a extensão da nossa loucura!
463- A riqueza doura a sabedoria e os talentos, mas não os constitui.
464- Em algumas revoluções o jugo continua como dantes, à exceção do baralho e jogadores que são novos.
465- As revoluções políticas, quando não melhoram, deterioram necessariamente a sorte das nações.
466- Somos benfazentes mais vezes por vaidade que por virtude.
467- O roubo de milhões, enobrece os ladrões.
468- A moda sanciona e justifica os maiores disparates e extravagâncias dos homens.
469- A imprensa é livre somente para o partido poderoso e dominante.
470- As nações, como as pessoas, aprendem errando e sofrendo.
471- Os homens são poucas vezes o que parecem; eles trabalham incessantemente por parecer o que não são.
472- O futuro, que atormenta a velhice, deleita a mocidade.
473- Não há escravidão pior que a dos vícios e paixões.
474- Sucede aos homens como às substâncias materiais, as mais leves e menos densas ocupam sempre os lugares superiores.
475- Os velhos que se mostram muito saudosos da sua mocidade não dão uma idéia vantajosa da madureza e progresso da sua inteligência.
476- As revelações da natureza, que são perenes, contradizem e desmentem geralmente as inculcadas revelações de muitos homens, e manifestam a sua ignorância ou impostura.
477- Não invejemos os que sobem muito acima de nós: a sua queda será muito mais dolorosa do que a nossa.
478- Trabalhai, poupai, acumulai, sabereis quanto podeis.
479- É rara a verdadeira gratidão, porque são raros os genuínos benfeitores.
480- Uma revolução feliz justifica maiores crimes e os eleva à categoria de virtudes.
481- O nosso espírito é essencialmente livre, mas o nosso corpo o torna freqüentes vezes escravo.
482- A virtude é o maior e mais eficaz preservativo dos males da vida humana.
483- Os homens probos são menos capazes de dissimulação do que os velhacos.
484- Os neutrais entre dois partidos são geralmente maltratados como censores e antagonistas de ambos.
485- São incalculáveis os benefícios que provêm às noções1 da incerteza do dia e ano de nossa morte: esta incerteza corresponde a uma espécie de eternidade.
486- Mais vale ciência intelectual, que riqueza mineral.
487- Os faladores não nos devem assustar, eles se revelam: os taciturnos nos incomodam pelo seu silêncio, e sugerem justas suspeitas de que receiam fazer-se conhecer.
488- Não empresteis o vosso nem o alheio, não tereis cuidados nem receio.
489- Amigos há de grande valia, que todavia não podem fazer-nos outro bem, senão impedindo pelo seu respeito que nos façam mal.
490- Os velhos prezam ordinariamente os morto e desprezam os vivos.
491- O meio mais eficaz de vingar-nos de nossos inimigos é fazendo-nos mais justos e virtuosos do que eles.
492- Se pudéssemos chegar a um certo grau de sabedoria, morreríamos tísicos de amor e admiração por Deus.
493- Não provoques o Poder, que ele se tornará cruel e despótico no seu desagravo.
494- Divertimo-nos com os doidos na hipótese de que o não somos.
495- Não desenganemos os tolos se não queremos ter inumeráveis inimigos.
496- A riqueza não acompanha por muito tempo os viciosos.
497- Há homens tão insignificantes que ninguém os ama nem aborrece, quando muito são desprezados.
498- Os velhos importunam aos circunstantes com os seus achaques, como os litigantes com as suas demandas.
499- Não subais tão alto que a queda seja mortal.
500- Não emprestes, não disputes, não maldigas, e não terás de arrepender-te.
501- O ateu é como o enjeitado que não conhece a seu pai, é como o animal bruto, comensal no banquete da natureza, que não cuida nem pergunta pelo seu benfeitor.
502- O velho crê-se feliz em não sofrer, o moço infeliz em não gozar.
503- Há mais homens de juízo do que se pensa, acham-se ordinariamente nas classes médias e inferiores da sociedade.
504- A admiração é uma das maiores prerrogativas da natureza humana.
505- A memória não falece aos velhos por falta de idéias, mas pela sua nímia variedade e acumulação.
506- Deve-se julgar da opinião e caráter dos povos pelo dos seus eleitos e prediletos.
507- Sempre haverá mais ignorantes que sabedores, enquanto a ignorância for gratuita e a ciência dispendiosa.
508- A anarquia é tão grande flagelo nas nações, que o tirano que prevaleceu e chegou a suprimi-la é reputado o salvador do povo e o seu melhor amigo.
509- A civilidade é uma impostura indispensável, quando os homens não têm as virtudes que ela afeta, mas os vícios que dissimula.
510- O sumário da vida humana são enganos e desenganos.
511- Observa-se que os fanáticos de liberdade passam a sua vida em prisões, enxovias, presigangas e trabalhos.
512- Somos muitas vezes maldizentes para nos inculcarmos perspicazes.
513- Mudai os tempos, os lugares, as opiniões e circunstâncias, e os grandes heróis se tornarão pequenos e insignificantes homens.
514- Deve-se usar da liberdade, como do vinho, com moderação e sobriedade.
515- Neste mundo fenomenal, o homem é tão mutável como a mesma natureza.
516- Nas revoluções dos povos a insignificância é a maior garantia da segurança pessoal.
517- Amamo-nos sobretudo, e aos outros homens, por amor de nós.
518- Há muitos homens que receiam ser desenganados pelo desgosto de parecerem crédulos ou tolos.
519- A maior parte dos homens são autômatos a quem alguns mais hábeis e sagazes fazem mover-se e trabalhar para seu proveito ou recreação.
520- É feliz e ilustrada a velhice que chegou a conhecer e avaliar os prestígios e as ilusões da vida humana, a descortinar as harmonias do Universo, e a admirar em pleníssima convicção a infinita sabedoria e bondade de Deus que se revela em todos os pontos do espaço e em todos os instantes do tempo, com prodígios e assombros da sua onipotência.
521- Passamos a vida a invejar-nos, e por fim, invejosos e invejados, todos perecem.
522- O homem de juízo converte a desgraça em ventura, o tolo muda a fortuna em miséria.
523- Não há homem que não deseje ser absoluto, aborrecendo cordialmente o absolutismo em todos os outros.
524- O tolo inutiliza os favores da fortuna, o homem hábil os escusa.
525- A filosofia não entorpece a sensibilidade quando muito pode chegar a regulá-la.
526- É tão fácil sentir a felicidade como é difícil defini-la.
527- Não somos sempre o que queremos, mas o que as circunstâncias nos permitem ser.
528- Pouco espírito inutiliza muito saber.
529- O louvor não merecido embriaga como o vinho.
530- Não é a fortuna que falta aos homens, mas a perícia e juízo em aproveitá-la quando ela nos visita.
531- O insignificante presume dar-se importância maldizendo de tudo e de todos.
532- Há homens cuja atividade é semelhante à dos bugios: incessante, destrutiva e turbulenta.
533- As religiões são sempre úteis aos homens, quando esperançam os bons e ameaçam os maus.
534- Ser religioso é o atributo mais honroso e sublime do homem sobre a terra: é por este predicado especialmente que ele se distingue de todos os outros viventes: erigindo templos e altares a Deus, também de algum modo se diviniza.
535- Os patriotas dizem em voz alta que é doce morrer pela pátria, mas em segredo reconhecem que é mais doce viver para ela e à custa dela.
536- A plena liberdade é como a pedra filosofal, procurada por muitos e por nenhum descoberta.
537- Quando o interesse é o avaliador dos homens, das coisas e dos eventos, a avaliação é quase sempre imperfeita e pouco exata.
538- Disputa-se sobre tudo neste mundo; argumento irrefragável do nosso pouco saber.
539- Muitos homens são louvados porque são mal conhecidos.
540- Afetar mistério em coisas frívolas e bagatelas é prova irrefragável de alma e coração pequeno.
541- Deus é o único Benfeitor verdadeiramente desinteressado.
542- A vida humana seria incomportável sem as ilusões e prestígios que a circundam.
543- O silêncio é o melhor rebuço para quem se não quer revelar, ou fazer-se conhecer.
544- O nosso amor-próprio é a causa e a fonte de todos os amores: amamos somente por amor de nós mesmos.
545- Não são incompatíveis muita ciência e pouco juízo.
546- O silêncio com ser mudo não deixa de ser por vezes um grande impostor.
547- Há opiniões que, assim como as modas, parecem bem por algum tempo.
548- É da natureza humana que muitos homens trabalhem para manter os poucos que se ocupam em pensar para eles, instruí-los e governá-los.
549- Em saber gozar e sofrer, os animais nos levam grande vantagem: o seu instinto é mais seguro do que a nossa altiva razão.
550- Não há inimigo desprezível, nem amigo totalmente inútil.
551- O império mais poderoso e fatal que existe é o das circunstâncias.
552- Os homens têm geralmente saúde quando não a sabem apreciar, e riqueza quando a não podem gozar.
553- Os grandes empregos desacreditam e ridicularizam os pequenos homens.
554- E aos insignificantes e aos homens de maior juízo, prudência e sagacidade, que é dado atravessar incólumes as revoluções políticas das nações.
555- Aflige-nos a glória alheia contrastada com a nossa insignificância.
556- A avareza contribui muito para a longevidade, pela dieta e abstinência.
557- Os que se não prestam a ser lisonjeiros por interesse ou dependência, muitas vezes o são por cortesia e civilidade.
558- Os homens mais orgulhosos são geralmente os mais irritáveis e vingativos.
559- O suicídio pressupõe uma desesperação total.
560- O interesse adota e defende opiniões que a consciência reprova.
561- As maiores desordens das nações provêm de sua maior divergência de opiniões em matérias políticas e religiosas.
562- Nos moços predomina a força centrífuga, nos velhos a centrípeta: daqui a mobilidade de uns, a inércia e imobilidade dos outros.
563- Os homens, em todos os tempos, sobre o que não compreenderam, fabularam.
564- Ninguém é tão prudente em despender o seu dinheiro, como aquele que melhor conhece as dificuldades de o ganhar honradamente.
565- A força sem inteligência é como o movimento sem direção.
566- Os que falam em matérias que não entendem parecem fazer gala da sua própria ignorância.
567- A vaidade é a bem-aventurança dos néscios, dos tolos, e semi-doutos.
568- Os bons conselhos desagradam aos apaixonados como os remédios aos que estão doentes.
569- As paixões são como os vidros de graus, que alteram para mais ou para menos a grandeza e volume dos objetos.
570- Não se apaga o fogo com resinas, nem a cólera com más palavras.
571- Ocupados em descobrir os defeitos alheios, esquecemo-nos de investigar os próprios.
572- Tolo e teimoso são sinônimos freqüentes vezes.
573- O coração enlutado eclipsa o entendimento e a razão.
574- A razão também tiraniza algumas vezes como as paixões.
575- Queixam-se os ricos de poucos cômodos nas suas casas; nas dos pobres, ainda que pequenas, sempre sobeja muito espaço.
576- Ninguém é tão solícito e diligente em requerer empregos, como aqueles que menos os merecem.
577- As circunstâncias ordinariamente nos dominam, poucas vezes nos obedecem.
578- Sempre nos reputamos melhores, e nunca piores do que somos.
579- O luxo irrita e desagrada a quem o não logra.
580- Os ignorantes exageram sempre mais que os inteligentes.
581- A sinceridade imprudente é uma espécie de nudez que nos torna indecentes e desprezíveis.
582- Nunca apreciamos devidamente o trabalho dos outros, mas sempre exageramos o valor do nosso.
583- A degeneração moral tem sido por vezes qualificada de regeneração política.
584- As virtudes são racionais, os vícios sensualistas.
585- Viver é doce; viver é agro: nesta alternativa se passa a vida.
586- Enquanto renhimos e disputamos sobre a melhor forma de governo, vem a morte e nos desobriga do interesse que tomávamos em tão embaraçosa controvérsia.
587- Os prazeres, como as rosas, estão bordados de espinhos; colhê-los sem ferir-se é o requinte da prudência e habilidade humana.
588- Desesperar na desgraça é desconhecer que os males confinam com os bens, se alternam ou se transformam.
589- As opiniões circulam como as moedas, poucas pessoas são capazes de verificar o seu peso, toque e valor intrínseco.
590- Perdem-se e desaparecem nos grandes empregos os pequenos homens.
591- A herança dos sábios tem sempre maior extensão e perpetuidade que a dos ricos: compreende o gênero humano, e alcança a mais remota posteridade.
592- A luz do sol e da verdade só a podemos ver em reflexo ou refrangida.
593- A morte refuta vitoriosamente todos os argumentos a favor da sabedoria humana; morremos por ignorantes.
594- A gravidade afetada provoca o riso e não granjeia reverência.
595- A escravidão voluntária é sacrifício temporário para alcançar senhorio permanente.
596- Os sábios desempregados são melhor aproveitados.
597- O amigo apaixonado é ordinariamente inimigo inexorável.
598- O melhor governo é aquele que agrada aos bons e que os maus reprovam.
599- Os velhos são melhores panegiristas dos finados que dos vivos.
600- Neste mundo sexual a união é produtiva, a desunião, infecunda e ruinosa.
601- A razão desencanta a imaginação.
602- Os velhos caluniam o tempo presente atribuindo-lhes os males de que padecem, conseqüências do passado.
603- O pedir para quem não tem vergonha é menos penoso que trabalhar.
604- A inveja, que abrevia ou suprime os elogios, é sempre minuciosa e prolixa na sua critica e censura.
605- O pobre lastima-se de querer e não poder, o avarento se ufana de que pode, mas não quer.
606- A fruição desencanta muitos bens e prazeres sensuais, que a imaginação, os desejos e as esperanças figuravam encantadores.
607- Os homens se disfarçam, como as mulheres se enfeitam, para agradarem ou enganarem.
608- A familiaridade tira o disfarce e descobre os defeitos.
609- Não é livre quem não tem suficiente inteligência para haver ou defender a liberdade.
610- O velho de juízo dá ao mundo a sua demissão antes que este o demita.
611- A inocência sem virtude corresponde ao idiotismo.
612- São tão limitadas as nossas forças mentais e corporais que consumimos um terço da nossa vida em dormir para repará-las.
613- Uma grande reputação é talvez mais incômoda que a insignificância pessoal.
614- A sabedoria indigente é menos invejada, que a ignorância opulenta.
615- Os aduladores são como as plantas parasitas que abraçam o tronco e ramos de uma árvore para melhor a aproveitar e consumir.
616- Queremos governos perfeitos com homens imperfeitos: disparate.
617- A indiferença ou apatia que em muitos é prova de estupidez pode ser em alguns o produto de profunda sapiência.
618- A felicidade dos entes racionais aumenta com o progresso da sua inteligência; os de maior intelecto são os que gozam mais da sua existência e do mundo em que residem.
619- Há muita gente a quem o sol, o frio, a calma ou as bebidas podem fazer corar as faces, porém nunca a vergonha.
620- É mais difícil sustentar uma grande reputação que granjeá-la ou merecê-la.
621- O juízo força a fortuna à obediência, ou escusa os seus serviços.
622- O maior lenitivo dos nossos males deve ser a certeza e convicção de que são finitos e transitórios como os bens.
623- Aprovamos algumas vezes em público por medo, interesse ou civilidade, o que internamente reprovamos por dever, consciência ou razão.
624- A inconstância humana é o produto necessário das variações da natureza, das circunstâncias e dos eventos.
625- O estudo da história acumula sobre a experiência individual a de muitos séculos e milênios.
626- É felicidade para os homens que cada um deles a defina a seu modo com variedade em sua essência e objetos.
627- Os acontecimentos políticos humilham e desabonam, mais a sabedoria humana, que outros quaisquer eventos deste mundo.
628- Quando a fortuna nos maltrata, recorremos à filosofia ou à religião, para que nos console e conforte.
629- A celebridade, que custa pouco, tem pequeno fulgor e duração.
630- Entre as pessoas incômodas nas companhias, distinguem-se especialmente os doentes, litigantes e pretendentes.
631- Os velhacos são tais por ignorantes: desconhecem que a melhor política é a probidade e o meio mais eficaz e seguro de ser felizes, a virtude.
632- Os povos, como as pessoas, variam de opiniões e gostos, e na sua inconstância passam freqüentes vezes de um a outro extremo.
633- A verdade é tão simples que não deleita: são os erros e ficções que pela sua variedade nos encantam.
634- Somos de ordinário caridosos porque nos reconhecemos passíveis, como os objetos da nossa compaixão.
635- Desempenhar bem os grandes empregos depende muitas vezes mais das circunstâncias que dos homens.
636- A paciência dispensa a resistência e a reação.
637- Os princípios liberais lavram e operam em certas circunstâncias e nações, como o fogo, devorando e consumindo.
638- Todos se queixam, uns dos males que padecem, outros da insuficiência, incerteza, ou limitação dos bens de que gozam.
639- O ateísmo é tão raro quanto é vulgar o politeísmo e a idolatria.
640- O poder, adicionando aos nossos braços muitos ou inumeráveis outros, nos converte em monstruosos Briaréus, e convida à tirania.
641- A ignorância nos empregados públicos é talvez mais danosa do que a sua improbidade. Em um jardim causa menos detrimento um ladrão do que um jumento.
642- É tão fácil recomendar a abnegação de nós mesmos, como repugnante à natureza executá-la.
643- Ambicionando o louvor e admiração dos outros homens, provocamos freqüentes vezes a sua inveja e aversão.
644- Não podemos deixar de ser difusos com os ignorantes, mas devemos ser concisos com os inteligentes.
645- Os homens de ordinária capacidade, quando governam, não podem tolerar sem dor o contraste de inteligências transcendentes.
646- Os velhacos têm por admiradores todos os tolos, cujo número é infinito.
647- Muitos e grandes bens sem alternativa de males são de ordinário prenúncio de graves e futuros infortúnios.
648- O juízo por mais vulgar é menos apreciado que o engenho.
649- Há muita gente para quem o receio dos males futuros é mais tormentoso que o sofrimento dos males presentes.
650- Os extremos se tocam, os abusos por seus excessos se corrigem.
651- A duração de um bem não assegura a sua perpetuidade.
652- Os louvores que nos dão os nossos inimigos podem ser diminutos, mas nunca são exagerados.
653- Ninguém resiste à lisonja sendo administrada, oportunamente, com a perícia e destreza de um hábil adulador.
654- A religião amansa os bravos e alenta os fracos.
655- Na ordem moral o castigo, como o dinheiro, vence juros pela mora.
656- A sabedoria é sintética; ela se expressa por máximas, sentenças e aforismos.
657- Há homens que afetam de muito ocupados, para que os creiam de muito préstimo.
658- Agrada mais ao nosso amor-próprio a companhia que nos diverte que a sociedade que nos instrui.
659- Ordinariamente tratamos com indiferença aquelas pessoas de quem não esperamos bens nem receamos males.
660- Sobeja-nos tanto a paciência para tolerar os males alheios, quanto nos falta para suportar os próprios.
661- Quem em Deus confia e espera, nunca desespera.
662- A ventura do homem imoral se assemelha a uma bela madrugada, que dá princípio a um dia proceloso e desabrido.
663- Condenamos muitas vezes a nossa memória para justificarmos o nosso procedimento.
664- Os pobres taxam a esmola quando pedem por empréstimo.
665- Os anos mudam as nossas opiniões, como alteram a nossa fisionomia.
666- Os homens nos parecerão sempre injustos enquanto o forem as pretensões do nosso amor- próprio.
667- É mais fácil perdoar os danos do nosso interesse, que os agravos do nosso amor-próprio.
668- O homem prudente se humilha pela experiência, como as espigas se curvam por maduras.
669- Não damos de ordinário maior extensão à nossa beneficência, do que julgamos convir ao nosso interesse.
670- A alegria do pobre, ainda que menos durável, é sempre mais intensa que a do rico.
671- Folgamos com os erros alheios como se eles justificassem os nossos.
672- Afetando por um vão pundonor saber o que ignoramos, deixamos de aprender o que não sabemos.
673- Somos tão vários nas nossas opiniões, quanto são várias as circunstâncias em que nos achamos.
674- Os homens de ordinário se humilham para se elevarem, como as aves se agacham para melhor voarem.
675- O amor abranda os heróis, como o fogo derrete os metais.
676- A sabedoria humana bem ponderada vale sempre menos do que custa.
677- A sabedoria é reputada geralmente pobre, porque se não podem ver os seus tesouros.
678- Há certos passatempos e prazeres ilícitos, que censuramos nos outros, mais por inveja do que por virtude.
679- Há homens tão vaidosos da sua ciência que presumem que os outros não podem ignorar menos nem saber mais do que eles.
680- Desprezamos ordinariamente as opiniões alheias, quando se não conformam com as nossas.
681- Somos enganados mais vezes pelo nosso amor-próprio do que pelos homens.
682- A morte de um avarento eqüivale à descoberta de um tesouro.
683- É tão fácil o prometer, e tão difícil o cumprir, que há bem poucas pessoas que se achem desobrigadas das suas promessas.
684- Os bens de que gozamos sempre exercem menos a nossa razão do que os males que sofremos.
685- O nosso bom, ou mau procedimento, é o nosso melhor amigo, ou pior inimigo.
686- Somos tão avaros em louvar os outros homens, que cada um deles se crê autorizado a louvar-se a si próprio.
687- Custa menos ao nosso amor-próprio caluniar a fortuna, do que acusar a nossa má conduta.
688- Em os nossos revezes, queremos antes passar por infelizes, do que por imprudentes, ou inábeis.
689- Os governos tendem à monarquia, como os corpos gravitam para o centro da terra.
690- Agrada-nos o homem sincero, porque nos poupa o trabalho de o estudarmos para o conhecermos.
691- O prazer da vingança é semelhante a alguns frutos, cuja polpa é doce na superfície, e azeda junto ao caroço.
692- Queixam-se muitos de pouco dinheiro, outros de pouca fortuna, alguns de pouca memória, nenhum de pouco juízo.
693- O hóspede acanhado é um dobrado incômodo para quem o hospeda.
694- Argüimos a vaidade alheia porque ofende a nossa própria.
695- Nada agrava mais a pobreza, que a mania de querer parecer rico.
696- A nossa imaginação gera fantasmas que nos espantam em toda a nossa vida.
697- A intriga é um labirinto em que de ordinário se perde o seu mesmo autor.
698- O nosso amor-próprio se exalta mais na solidão: a sociedade o reprime pelas contradições que lhe opõe.
699- Quando não podemos gozar a satisfação da vingança, perdoamos as ofensas para merecer ao menos os louvores da virtude.
700- O homem mau nunca é geralmente aborrecido por todos, porque necessariamente faz bem a alguns.
701- Perdoamos mais vezes aos nossos inimigos por fraqueza, que por virtude.
702- Muitos se queixam da fortuna e dos governos, que só deveriam queixar-se de si mesmos.
703- Somos todos invejosos, com a diferença somente do mais ou menos.
704- Admiramo-nos do que é raro, ou singular, tanto no mal como no bem.
705- O homem que não é indulgente com os outros, ainda se não conhece a si próprio.
706- O amor criou o universo, que pelo amor se perpetua.
707- O nosso amor-próprio é muitas vezes contrário aos nossos interesses.
708- Há homens que de repente crescem, e avultam, como os cogumelos, pela corrupção.
709- O lisonjeiro conta sempre com a abonação do nosso amor-próprio.
710- A conduta do avarento faz presumir que ele não crê na Providência de Deus, nem confia na caridade dos homens.
711- Há pessoas moralmente sábias a seu pesar: as terríveis lições de uma experiência dolorosa as fizeram tais.
712- Podemos perdoar afoitamente aos nossos inimigos, na certeza de que os seus mesmos vícios ou defeitos nos hão de vingar.
713- Há muitos homens reputados infelizes na nossa opinião, que todavia são felizes a seu modo, segundo as suas idéias.
714- Há rasgos de virtude que provocam lágrimas de admiração; esta é tanto maior, quanto supomos maiores os esforços, e sacrifícios que custaram às pessoas que os produziram.
715- O mentiroso só tem sobre o homem verídico a vantagem da invenção.
716- O luxo, assim como o fogo, tanto brilha quanto consome.
717- A obstinação nas disputas é quase sempre efeito do nosso amor-próprio: julgamo-nos humilhados se nos confessamos convencidos.
718- Um homem virtuoso e moral, sem princípios e sentimentos religiosos, seria um fenômeno singular; pretendem alguns que os há, como outros que existe a Fênix.
719- As esperanças, quando se frustram, agravam mais os nossos infortúnios.
720- Desejamos que prosperem as pessoas de cuja prosperidade esperamos participar por algum modo, e receamos a elevação daquelas cujas intenções não nos são favoráveis.
721- Enganamo-nos ordinariamente sobre a intensidade dos bens que esperamos, como sobre a violência dos males que tememos.
722- Há homens que se tornam importunos, desejando laboriosamente parecer corteses.
723- Ordinariamente nos fingimos distraídos quando nos não convém parecer atentos.
724- É mais fácil cumprir certos deveres, que buscar razões para justificar-nos de o não ter feito.
725- Como a luz em uma masmorra faz visível todo o seu horror, assim a sabedoria manifesta ao homem todos os defeitos e imperfeições da sua natureza.
726- Os homens nos pareceriam mais justos ou menos injustos, se não exigíssemos deles mais do que podem ou devem dar-nos.
727- Muitos se abstêm por acanhados do que outros fogem por virtuosos.
728- A prudência é o resultado da consciência da nossa fraqueza: é um receio reflexionado dos males futuros pela experiência dos males pretéritos.
729- Os vícios e paixões de uns homens são os elementos da ventura de outros.
730- O tempo, que não existe, é geralmente o que mais nos atormenta ou nos recrea.
731- Há pessoas que ganham muito em ser lidas, e perdem tudo em ser tratadas: escrevem com estudo e vivem sem ele.
732- Querendo prevenir males de ordinário contingentes, o homem prudente vive sempre em tortura, gozando menos do presente do que sofre no futuro.
733- Os homens têm querido dar razão de tudo, para dissimular ou encobrir o seu pouco saber.
734- Quase sempre atribuímos os nossos revezes à fortuna, e bem raras vezes aos nossos desacertos.
735- Naturalmente nos alegramos com a morte dos avarentos, como se fôramos seus herdeiros ou legatários.
736- Capitulamos quase sempre com os nossos males, quando os não podemos evitar ou remover.
737- Nunca perdemos de vista o nosso interesse, ainda mesmo quando nos inculcamos desinteressados.
738- Louvamos encarecidamente o estado, ciência ou arte que professamos, para justificar a nossa escolha e honrar as nossas pessoas.
739- Somos em geral demasiadamente prontos para a censura, e demasiadamente tardos para o louvor: o nosso amor-próprio parece exaltar-se com a censura que fazemos, e humilhar-se com o louvor que damos.
740- A razão no homem é como a luz do pirilampo: intermitente, pequena e irregular.
741- A ventura embota e contrai o entendimento, como a adversidade o afina e dilata.
742- A sabedoria humana bem considerada é uma loucura menos disparatada.
743- As grandes livrarias são monumentos da ignorância humana. Bem poucos seriam os livros se contivessem somente verdades. Os erros dos homens abastecem as estantes.
744- Há pessoas tão malignas, que sentem mais o bem alheio que os próprios males.